O Naturismo vai ao teatro, mais uma vez
Por Pedro Ribeiro
Desta vez foi no Rio de Janeiro. O pequeno teatro Cândido Mendes, em uma de suas salas, recebeu o público naturista em sessão exclusiva, para assistir a peça Luz Del Fuego – uma história além da vida.
Foram cerca de 60 minutos onde quatro atores contaram boa parte da vida da bailarina do povo, como era chamada Luz Del Fuego pelos jornais no auge de sua carreira de vedete, a dançarina exótica que dançava nua com cobras enroladas pelo corpo e atraía multidões de espectadores (majoritariamente homens) para suas apresentações com lotação esgotada. Luz teve uma vida conturbada e essencialmente dramática. Uma mulher muitíssimo adiante de seu tempo (com certeza, se fizesse, na época de hoje, tudo o que fez naquela época, ainda seria escorraçada e negativada pela mídia) trouxe o Naturismo de forma contundente para o Brasil, dando visibilidade social a este movimento, na década de 50 e 60.
O texto de Luz Del Fuego – Uma história além da vida é de autoria de Sônia Barbosa, que pesquisou muito sobre a vida de Luz para ser o mais fiel possível ao que se conhece. O resultado foi um texto denso, dramático e emocionante, que abordou toda a vida de Luz desde sua infância até sua morte, em 1967, com um toque de espiritualidade, já que a personagem Luz Del Fuego conta sua própria história após sua existência, numa espécie de limbo, repassando todos os momentos que viveu. Os outros atores revivem estes momentos do passado, havendo a personagem Luz Del Fuego jovem que contracena com todos os fantasmas e alegrias vividos por várias personagens importantes de sua história.
A direção da encenação também é de Sônia Barbosa, que também assina a produção. Ou seja, um espetáculo que foi lançado de forma corajosa e heroica, sem patrocínio e quase sem apoio institucional.
No último sábado do mês, 28 de setembro, a Associação Naturista de Abricó organizou esta ida coletiva ao teatro, onde poderíamos assistir a peça de forma naturista, quem quisesse. E assim foi feito. Quarenta e seis pessoas quase lotaram o pequeno teatro, e foi o maior público da temporada até então. Assim que todos da fila se acomodaram em seus lugares, Pedro Ribeiro, membro da diretoria da ANABricó, anunciou à plateia que a partir daquele momento quem quisesse poderia ficar nu, lembrando das regras comportamentais do naturismo e da boa educação e higiene de sentar-se sobre uma canga ou toalha. Informou também que após a sessão seria aberto um canal de conversa e debate com o elenco, sobre Luz Del Fuego e sobre o Naturismo e, finalmente, a infalível foto oficial com os naturistas que quisessem posar nus e não tivessem problemas de terem suas imagens divulgadas ao natural nas redes sociais e na mídia.
Cerca de 50% dos presentes tiraram as roupas e assistiram nus todo o espetáculo.
Encerrada a sessão e muitos aplausos, todo elenco mais a produção se posicionaram para o início do debate, o qual foi muito animado, informativo e participativo. Principalmente Sônia Barbosa e a atriz principal, Jussara Calmon, responderam a maioria das perguntas e curiosidades da plateia sobre a vida de Luz e sobre a experiência do elenco com o Naturismo. E, já dando “spoiler” nenhum dos atores e da produção teve qualquer experiência vivida no naturismo, com exceção de Jussara Calmon, que já esteve em praias naturistas na Europa, principalmente na Noruega, onde mora boa parte do ano. A razão de escolher Luz del Fuego para ser o tema da peça foi exatamente a vida despojada e feminista da personagem principal, e o naturismo veio junto.
Algumas ideias brotaram, como o sonho de fazer encenação da peça na própria Ilha do Sol, valorizando o local e não deixá-lo esquecido.
Por volta das 22 horas, a direção do espaço foi pedir para que encerrássemos o encontro porque eles precisavam fechar tudo e ir embora. Foram duas horas de puro aprofundamento cultural.
(enviado em 1/10/24 via WhatsApp)